terça-feira, 16 de junho de 2015

Inexpressividade

Sentir
Falar
Sofrer

Três palavras que sempre fizeram parte de sua vida, de inúmeros monólogos com sua cabeça, da sua solidão que sempre sentia, tinha muitos amigos mas nunca se sentiu parte daquilo, o silêncio sempre foi sua companhia e o que o mais o afastava dos outros, poderia contar nos dedos os amores que perdera devido a seu silêncio, aquela pergunta que sempre ficava no ar "não tem mais nada a me dizer?" sempre acompanhado de um não, o matava mais um pouco e o desencorajava mais a encontrar um novo amor.
Em sua cabeça era tudo perfeito, sempre conseguia dizer o que realmente sentia a seus personagens imaginários, seus ensaios mentais eram absurdamente poéticos e muitas vezes clichês como filmes românticos água com açúcar, mas algo o sempre impedia de dizer tais coisas, o silêncio sempre impedia ou trocava suas palavras. Queria um jeito de romper o silêncio e poder gritar o que queria, correu para a música, mas viu que suas melodias não eram o suficiente para expressar tudo aquilo, tentou fazer quadros mas não sabia o que pintar, tentou correr, lutar, brigar mas era em vão, até que encontrou o que realmente achava que era sua expressão: O álcool,então bebia uma, duas, três, infinitas garrafas, gritava, corria, enlouquecia e invariavelmente acabava enfraquecendo sua frágeis relações, o tentaram fazer parar, mas não queria, se orgulhava daquilo, a seu ver, era a sua arte, sua expressão, o seu remédio; quando o perguntavam o por que daquilo, simplesmente respondia: Por que sou um louco solitário.
 Continuou neste ciclo, indo dos destilados aos carbonatados passando pelos fermentados, sem qualquer ordem ou sentido, inúmeras bebedeiras e ressacas, se sentia bem com aquilo, mas sempre sua velha companheira vinha visitá-lo e atormentá-lo. Até que um amor retornara, uma que havia perdido devido ao seu silêncio, resolveu que tentaria novamente mas seu silêncio não iria atrapalhar mais, montou o maldito diálogo do que diria em sua mente, parecia sem erro, perfeito, mas parou e pensou "não é assim que sempre fiz? Imagino como vai ser e na hora nada acontece, não, dessa vez vai ser diferente". Chegou a hora de ir, mas antes tomou um pouco da sua "arte" e partiu, acabou dizendo o que queria ter dito a anos e também o que nunca deveria ter sequer pensado, mas de repente tudo apaga e acorda num chão sujo, se sentindo deprimido, tenta lembrar do que aconteceu, do que havia dito, do por que dessa tristeza mas não consegue, sua mente está mais confusa que o normal, um único pensamento ecoa em sua mente: Preciso encontrá-la, e a encontrou e com ela reencontrou sua velha inimiga e companheira, o silêncio, não podia fazer mais nada a barreira tinha sido criada já, e apenas sobrou aquilo. O silêncio. Voltou pra casa, estava sem rumo novamente, viu um pedaço de papel, começou a rabiscá-lo, escrevendo tudo na sua mente, com tanta força que rasgou o papel, jogou toda sua raiva, frustração e paixão naquilo, até que parou e viu aqueles inúmeros papéis escritos e percebeu que tinha finalmente encontrado sua expressão da alma, e assim continuou com um sorriso no rosto, escrevendo, rasgando, o silêncio tinha ido embora.
Ele havia se encontrado

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